Então. Eu tinha um amigo, sabe? As vezes me bate uma saudadinha dele....
Era um amigo de internet, mas um amigo. A gente se conheceu por um brógue que ele escrevia muito lindo, bem-humorado, inteligente, apaixonado e com um sorriso lindo. Ele era perdidamente apaixonado por uma menina. Ela era sua "bunita". Ela era a menina mais bonita da cidade, e ele só tinha olhos e ouvidos pra ela.
Eu amei o jeito dele ser apaixonado e se dar pra ela sem medo. Comecei a comentar o blog (na época eu também tinha um) e no vão das paixões boas e impossíveis, nos aproximamos e ficamos amigos. Sempre nos falávamos, trocávamos figurinha e infelizmente o amor dele ruiu como um castelo de cartas. Foi doloroso, ele se recolheu um pouco e eu fiquei aqui, quietinha, torcendo pra eles voltarem, ou ele se recuperar de vez e sorrir de novo. Eu já disse que ele tinha um sorriso lindo?
O tempo passou, o contato ficou um pouco mais espaçado, ele se apaixonou novamente (e o sorriso lindo voltou!), eu me apaixonei novamente e casei. Ele também casou, com seu novo amor, as fotos do casório ficaram lindas, a noiva radiante, ele lindo e sorridente. A gente se falava, vez por outra, pelo @rkut, mas pelo menos pra mim, era uma amizade de cantinho, sabe? Aquela que chega, afofa, se acomoda e fica ali, pra sempre, num cantinho macio do seu coração.
O meu casamento durou o tempo que tinha que durar e acabou. Eu me divorcei. E como toda boa divorciada, meti o pé no mundo pra desanuviar a cabeça e curtir ter apenas as minhas vontades pra realizar. Fiz um curso de História da Arte (o melhor, aliás! em outro post eu falo dele) e a "sede" do curso era na mesma cidade que o meu amigo mora. Fiquei empolgada tanto com a viagem quanto com a possibilidade de finalmente dar ao amigo virtual um corpo real, um toque e um calor de gente de verdade. Avisei a ele que estava com passagem marcada e perguntei se ele gostaria de me encontrar também, prum café. Ele até cogitou eu ficar no apartamento deles durante a minha estada, mas eu - rata velha - já tinha reserva marcada em hotel e tudo. Belezinha, né?
Pois a primeira coisa que eu fiz quando cheguei lá foi ligar pra ele. Ele me perguntou em que hotel estava, e disse que se fosse me encontrar ele acabaria querendo ficar comigo e me levar prum motel. O QUÊ?
Isso mesmo. Assim. A seco.
Inda pensei que fosse brincadeira e tentei desviar o assunto prum papo sério, mas ele insistiu. Disse que sempre se sentiu atraído por mim, que nunca teve coragem de falar. Eu perguntei onde ele estava e ele estava num bar com amigos. Pela voz alteradinha, imaginei que já deveria ter bebido umas e outras.
Fiquei chocada com tudo aquilo, todos os anos de contato e amizade (anos mesmo! quase 10 anos) ruindo ali, com um simples telefonema. Ele continuou insistindo, insistindo e eu mais do que irritada, encerrei o assunto dizendo que não estava à disposição dos desejos alheios. Desliguei a ligação e fui dormir, com a primeira noite de viagem já estragada.
No café da manhã, ele liga de novo. Pediu desculpas pelo que tinha dito no dia anterior, que tinha bebido algumas e acabado ficando de língua solta. Eu, manteiga mole que sou, já estava ficando derretida, pensando que tudo poderia ficar bem, depois daquilo tudo. Ô, burrice. No meio da conversa ele recomeça a dizer que mesmo bêbado, tinha ficado feliz porque tinha tomado coragem de me contar sobre sua atração por mim. Que queria me encontrar, mas não ia resistir, que queria ficar comigo e toda aquela ladainha horrorosa novamente.
O dia se passou assim, com ele me ligando e eu argumentando que não, não queria ficar com ele, e onde estão os anos que nós conversamos? Onde está o meu menino lindo, apaixonado e fiel? Envelheceu - ele respondeu. Eu disse que não era justo ele jogar aquilo tudo na minha cara daquele jeito e que não era pra ele descontar em mim algum problema ou fantasia mal-resolvida do casamento. Eu não estou descontando nada - ele explicou - estou na melhor fase do meu casamento , minha esposa e eu estamos apaixonados, ela está grávida e tudo vai bem.
Olha. O sangue subiu pra cabeça e eu só não mandei o dito cujo ir à merda porque estava no meio de uma loja (experimentando a bota mais lôca que eu já tinha visto na vida). Desliguei o telefone e não atendi mais as ligações dele. Que gente mais podre e cínica! Eu não sei quem ele estava desvalorizando mais, eu ou a esposa. De qualquer forma, foi horrível.
Eu não falo mais com esse amigo. Sei lá o que pode ter acontecido pra ele se transfomar nesse cínico e egoísta. Ele se tornou um estranho.
Hoje eu encontrei o e-mail que mandei pra ele avisando que estava indo. E meu deu um aperto de saudade de ter o amigo que ele já foi.
terça-feira, 7 de abril de 2009
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